sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vivissecção

“A moral de alguns cientistas é do nível de jardim da infância”, diz especialista em direitos dos animais.
Steven Wise quer estender direitos fundamentais exclusivos aos seres humanos a alguns animais, impedindo que eles sejam usados em pesquisas científicas.

por Marco Túlio Pires

Para o advogado e especialista americano em direito dos animais Steven Wise, alguns animais deveriam ser elevados ao “status de pessoa”. Wise investigou sete espécies — chimpanzés, orangotangos, gorilas, papagaios africanos, elefantes, cães e golfinhos — e concluiu que, assim como os seres humanos, todas deveriam ter direitos legais que protegessem sua integridade e liberdade física. O especialista já escreveu quatro livros discutindo o cativeiro, a inteligência animal e por que alguns bichos não deveriam ser usados em pesquisas científicas.

Wise dá aulas sobre direitos dos animais em quatro faculdades nos Estados Unidos, incluindo Harvard. Também é bacharel em química e diretor do Non-Humans Rights Project (Projeto pelos Direitos dos Não-Humanos), organização que reúne cerca de 40 pesquisadores nos Estados Unidos. Eles estão prestes a entrar na Justiça para tentar convencer o Superior Tribunal de Justiça da Flórida de que chimpanzés ou golfinhos têm condições de receber direitos fundamentais que ainda são exclusivos de nossa espécie.

“Faz apenas 60 anos desde que os seres humanos decidiram que não fariam testes em outros seres humanos sem o consentimento deles. E cerca de um século e meio desde que humanos, neste país, deixaram de escravizar outros humanos. Será que essas coisas que costumávamos fazer uns aos outros, que só agora admitimos que eram grotescamente imorais, podem ser repetidas em outros seres?” —Steven Wise

Veja parte da entrevista de Wise:

Muitos cientistas dizem que é praticamente impossível conduzir pesquisas biomédicas sem animais. O que o senhor pensa a respeito?Algumas pessoas que pertencem ao movimento pelo direito dos animais são contra a ciência. Eu não sou contra a ciência. Essa é uma questão que também tem a ver com a filosofia e o direito e por isso é complicado generalizar. Quando vamos lidar com uma preocupação científica, temos que considerar o sistema que queremos proteger. Então, se a intenção é desenvolver drogas que não vão fazer mal aos seres humanos, precisamos entender o sistema humano e qual tipo de sistema biológico trará resultados válidos. Se utilizamos animais não-humanos, no fim das contas, teremos, pelo menos, dois sistemas biológicos que precisaremos entender muito bem. Então, é muito difícil dizer “não é possível conduzir esse tipo de pesquisa com ou sem animais”. As pesquisas não estão necessariamente limitadas aos sistemas biológicos. Existem culturas de células e modelagem computacional e matemática. Não quero fingir ser um especialista em nenhuma dessas áreas, mas as tenho acompanhado nos últimos 30 anos. Elas existem e estão melhorando. Outro fato importante é que, na minha experiência, defensores dos direitos dos animais tendem a conhecer muito pouco sobre ciência. Por outro lado, os cientistas tendem a conhecer quase nada de ética e de direito. Eles entendem muito pouco daquilo que não é ciência. Se precisamos de um sistema biológico para desenvolver pesquisa e proteger os seres humanos, qual é o melhor sistema? A resposta é, obviamente, a mesma espécie que queremos proteger. Então, a melhor espécie para entendermos a saúde humana é o próprio ser humano. Creio que nenhum cientista discordará disso.


Veja a entrevista completa aqui
Veja também o infográfico: A história dos direitos dos animais

Nenhum comentário:

Postar um comentário